Ganhar ou perder: qual a sua aposta?
Estima-se que ainda em 2019 o mundo das apostas on-line movimentará cerca de R$ 10bi.
Por: Émerson Santos, Rodrigo Cruz e Andreia Rodriguez
Dos jogos mais “tradicionais” como o Poker, aos mais modernos como os jogos digitais, o mundo de apostas segue rodando no país. Apesar de ser considerada ilegal a prática, os jogadores encontram brechas na lei para fazer o dinheiro girar.
Conforme dados divulgados em 2018, pela Revista Exame, o Brasil tem em média 400 sites de apostas on-line que movimentam cerca de R$ 6 bilhões anualmente. Conforme a lei estabelecida no Brasil, todo dinheiro adquirido por meio de apostas deveria ser declarado a Receita Federal, por consequência, isso geraria o repasse de aproximadamente R$ 2,7 bilhões em tributos aos cofres públicos.
Se trouxermos esses R$6 bi para aplicações reais, podemos ver como:
Pouco se sabe a respeito de valores declarados ou não, uma vez que os sites não podem ser hospedados no Brasil, fica sob responsabilidade do apostador fazer sua declaração. Seja por falta de informação ou negligência essa questão acaba passando batida perante a economia do país.
Simples e intuitivo
Analisando alguns sites de apostas é possível identificar algumas características em comum entre eles, a maioria possui uma página inicial que funciona como uma central de distribuição de informações. Geralmente divididas em sessões de cadastro de novos usuários, prêmios e como ganhar dinheiro. A técnica para atrair novos clientes é simples: são exibidos valores altos que chamam a atenção do visitante. Em alguns casos os sites disponibilizam a novos jogadores uma quantia simbólica de créditos grátis para começar a apostar. Mais um atrativo para quem já pensa em conhecer o mundo dos jogos.
A ideia é seduzir o cliente a apostar no time do coração ou até contra o seu rival. Desta forma, o apostador é instigado a jogar cada vez mais. Uma das características mais marcantes dentro dos sites é que eles são intuitivos, tornando tudo mais simples, rápido e prático.
Contudo, os interessados em participar desse mundo, precisam preencher uma série de “requisitos”. Tudo começa com um cadastro de duas etapas, no qual o jogador se identifica. Nesse momento é criado um vínculo de privacidade na conta, uma vez que é necessário criar login e senha seguida de uma pergunta pessoal pré-definida pelo site. Na segunda etapa são feitas as perguntas que ajudam a identificar o apostador: nome, sobrenome, data de nascimento, número de telefone entre outras informações pessoais.
Depois do registro, o apostador é direcionado para a página inicial do site, um ambiente simples e direto. A intenção é fazer com que o jogador não tenha dificuldades e logo inicie as apostas. Visualmente mais de 80% da página é destinada aos principais jogos do momento, em sua maioria o futebol, mas se engana quem pensa que esse universo acaba por aí. Outros esportes como o basquete, tênis, golfe, futebol americano, também são parte fundamental dos “serviços” ofertados pela plataforma.
Quando chega o momento de apostar é necessário que sejam adicionados créditos a conta. Essa transação pode ser feita pelo cartão de crédito, boleto ou pagamento virtual. O processo de reconhecimento é rápido e em questão de horas já é possível começar a “brincadeira”. Estima-se que existam mais de 120 jogos simultâneos acontecendo e o apostador pode dar seu palpite em todos ao mesmo tempo.
Cada jogo tem suas probabilidades, quanto maior for o risco da aposta maior é o prêmio. Outra particularidade da plataforma é a variedade de apostas. Pode ser o placar geral do jogo, quem dominou mais a partida, quantidade de gols, cartões amarelos, vermelhos e até mesmo a quantidade de faltas. O imediatismo é outro ponto que atrai os usuários, uma vez que tudo isso é atualizado em tempo real para que o apostador fique por dentro do que está acontecendo e comece a virar um visitante assíduo.
Uma brincadeira de adultos
Existe uma área dentro do site que funciona como um cassino, onde não se trata de escolhas e sim de sorte. A aba funciona com máquinas caça-níqueis virtuais, corrida de cavalos virtuais, roletas virtuais, blackjack virtual dentre outros jogos, tudo para que o apostador sinta-se mais à vontade.
O mundo das apostas on-line é restrito a menores de 18 anos, inclusive é uma das mensagens que aparecem na tela de apostas do site.
Por fim, o site traz uma guia de ajuda para viciados em jogos. Esta aba é bem direcionada ao familiar ou amigos do apostador, pois ensina a identificar uma pessoa com o problema, ensinando sobre como lidar com essa questão.
Você se acha bom em apostas?
As apostas on-line são uma forma de testar o conhecimento em esportes com a possibilidade de ganhar dinheiro em caso de sucesso nos palpites. Pensando neste mercado bilionário, cada vez mais pessoas estão deixando de fazer apostas esportivas como entretenimento e se dedicando profissionalmente para viver da renda gerada com os palpites.
Apesar de ser algo acessível é preciso dedicação e estudo para saber o que está fazendo. Esse é o caso de Tiarlen (a fonte não quis se identificar com o nome completo), 28 anos, formado em Psicologia pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs), que já vem há mais de dois anos usando as apostas on-line como uma profissão e não mais só como diversão. “Tem que saber o que está fazendo, não adianta ir lá e apostar só no chute, se não vai perder dinheiro apenas. Você precisa estudar em quem vai apostar, no adversário da equipe, só assim para se sair bem no final, tem que estudar de qualquer jeito”, alerta o jogador.
Para entender como funciona este universo de apostas, é necessário conhecer os conceitos básicos do jogo. Um bom apostador precisa saber onde está colocando o seu dinheiro, deste modo ele precisa estar sempre analisando tendências e estatísticas de jogos para conseguir os melhores resultados. Estudar tudo isso é fundamental para se tornar um apostador de sucesso, como Tiarlen, que já se considera um profissional de apostas.
“Sou um profissional hoje, como qualquer outro emprego você precisa estudar, porém não é um emprego reconhecido, mas sou sim um profissional.”
A principal vantagem das apostas on-line é que elas podem ser feitas de qualquer lugar, precisando apenas de um computador, tablet, celular ou smartphone com acesso à internet. E as apostas esportivas são as que mais estão em evidências nesses últimos anos. Tiarlen aproveita isso para desfrutar não só do futebol, mas também de outros esportes.
“Eu aposto além do futebol, em basquete, vôlei, tênis e golfe, qualquer esporte na verdade eu aposto e a realidade é que tu tens que saber estudar esses esportes para se sair bem”, afirma o jovem.
Parece ser simples todo esse processo de apostas, mas a verdade que se você entrar na onda de como se fosse uma brincadeira isso pode custar caro, pois é um mercado que movimenta muito dinheiro e se você não souber mexer nele corretamente pode pôr em risco a saúde financeira.
Para muitas pessoas, ficar apostando tanto assim pode virar um vício, que aliás, é muito comum. Não existem dados concretos e em geral as famílias não notam quando isso acontece. Isso só acontece quando o apostador perde uma alta quantia em dinheiro.
“Não me considero viciado em apostas, sou viciado em ganhar dinheiro, porque eu sei o que estou fazendo e para mim viciado é está torrando tudo em apostas sem saber o que está fazendo e hoje eu me considero um profissional.”
Procure ajuda
Para quem precisa de ajuda existe uma saída. É o caso do Grupo Esperança (Jogadores Anônimos), localizado no bairro Independência, em Porto Alegre, que promove reuniões semanais destinadas a apostadores compulsivos que não sabem como lidar com esse problema. A iniciativa promove debates e trocas de experiências voltadas a reabilitação de homens e mulheres que precisam de apoio.
Conversamos com a coordenadora do projeto que pediu para não ser identificada. Para preservar a identidade da entrevistada aqui na reportagem ela será chamada de Maria. Ela já foi uma apostadora compulsiva e está longe das apostas a mais de 10 anos. Depois de muito tempo ela consegue falar com propriedade que venceu o vício. Segundo Maria, semanalmente o número de integrantes da reunião é próximo a 15 pessoas por seção.
O encontro fica aberto para que os presentes possam contar suas histórias quando sentirem-se confortáveis, sendo que ninguém é obrigado a falar. Ainda assim, especialistas afirmam que a troca de experiências é uma das ferramentas mais eficientes no combate a traumas e vícios.
O grupo conta também com uma seção de apoio aos familiares do jogador que funciona da mesma forma. A diferença é que a troca de experiências é feita entre os familiares dos apostadores. Na maioria dos casos, eles sofrem igual ou até mais que o próprio jogador sem saber como ajudar.
Segundo Maria, todo jogador chega no grupo falando que não é viciado, argumento padrão inclusive no início de sua própria trajetória no grupo de apoio. Hoje em dia temos diversas modalidades de jogadores, sejam os compulsivos, esporádicos ou curiosos. Se pensarmos individualmente em cada é possível identificar traços de cada perfil.
- Jogadores compulsivos: aqueles que não sabem a hora de parar, e que vê em tudo a oportunidade de fazer uma fézinha.
- Jogadores esporádicos: em geral eles precisam de um gatilho para começar a jogar, seja motivado pelo consumo de bebidas alcoólicas ou influência direta de outros apostadores.
- Jogadores curiosos: são aquelas pessoas que experimentam o jogo e não tem aquela sensação de ganhar ou perder como uma necessidade de vida e apostas quando dá, quando o dinheiro sobra, ou simplesmente por passa tempo.
Maria ressalta que o grupo mais complicado é o de pessoas que levam essa atividade como profissão, pois veem nas apostas um modo de sustento para suas vidas. Uma parcela difícil de identificar já que não entendem este processo como vício e encaram essa rotina como um trabalho.
Identificar um jogador compulsivo não é fácil, mas é fundamental e quanto antes procurar ajuda mais fácil é de se lidar. Em caso de emergência entre em contato pelo fone (51) 9 9358–7068 ou acesse www.jogadoresanonimos.org.br/.
O vício realmente existe?
Segundo a matéria divulgada no site BBC Brasil, publicada em 9 de outubro de 2019, que aborda o tema “Como meu filho passou de gamer a apostador compulsivo”. Destaca-se o trecho da matéria que aborda o seguinte:
A psiquiatra Henrietta Bowden-Jones, que atua em um centro de tratamento apoiado pelo sistema de saúde pública do Reino Unido, afirma que a ligação entre atividades ligadas a jogos “que podem ser tóxicas para jovens” e o vício em apostas ainda não foi estabelecida. Atualmente, trata-se de um “grande debate controverso”, segundo ela. — BBC Brasil
Ficou em dúvida se você é um jogador compulsivo? Faça esse teste rápido e descubra.
Textos: Émerson Santos, Rodrigo Cruz e Andreia Rodriguez
